O Problema Também é Nosso

Quando o assunto é autoconhecimento, o que não faltam são produções artísticas que nos fazem pensar no tema. Neste sentido, quero brevemente falar a respeito de um filme que me trouxe algumas reflexões. O filme é Diamante de Sangue.

Trata de guerras civis no continente africano, especificamente sobre a guerra pela posse e exploração do diamante. Como este cenário é bastante ressaltado, nos faz refletir sobre a recente história do continente, de disputas e dominação pela posse de recursos naturais e exploração econômica, situações muito frequentes na história da colonização e desenvolvimento capitalista. O fato é que pensar nestes capítulos da trajetória humana normalmente nos incita a tomar posição de julgadores com relação aos países capitalistas, ricos e exploradores. Mas tal posicionamento pode ser aprofundado se percebermos que os habitantes do continente africano, em termos sociais, parecem se organizar segundo a mesma lógica, explorando uns aos outros, matando, corrompendo e dominando. Quem é o responsável por tudo isso? As forças do mercado? O capitalismo selvagem? o FMI ou os EUA?Para começar, podemos olhar para nossa espécie e admitir a realidade de enormes dificuldades no campo dos relacionamentos interpessoais. Nós, seres humanos que tantos nos orgulhamos das qualidades inerentes ao raciocínio, agimos esquecendo do coração que possuímos, e assim matamos uns aos outros. Lá na África? Também. Mas pior que matar o corpo, é matar os corações e almas, fato que estamos tão acostumados a presenciar que não nos causam mais espanto. No “bom dia” ignorado, na resposta mal dada, no “como vai” não dito, numa fechada de trânsito e mesmo naqueles atos sutilmente permeados de egoísmo e arrogância, matamos uns aos outros, e aos poucos. Damos vida à uma sub-vida, existimos apenas. Drenamos a vida alheia num movimento recíproco e ressonante, e culpamos o mal externo.

Talvez o problema não seja apenas da Africa, dos algozes capitalistas, do motorista sem educação, da elite alienada ou do servidor público preguiçoso. Como alternativa, podemos escolher quebrar o ciclo e assumir a medida que nos cabe da responsabilidade sobre tais situações: somos indivíduos repletos de limitações, mas também de potencialidades. Somos a parte que somada, resulta no todo. A vivência do autoconhecimento faz entender que o problemas “deles” é também problema nosso, e vice versa. A partir daí nos humanizamos e conseguimos enxergar que por trás dos uniformes, automóveis, balcões, telefones e monitores existem pessoas como nós.

Rafael de Carvalho Oliveira